sábado, 22 de agosto de 2009

Leitura e processos de escrita II – TP6

Considerações importantes

Linguagem dissertativa

A habilidade para argumentar e defender idéias é adquirida muito cedo,
no próprio processo de aquisição da linguagem. “Dissertamos muito mais do que imaginamos.” Só que a forma pela qual fazemos isso oralmente – exposições ou discussões – costuma, em geral, ser diferente da forma que assumem as argumentações escritas. Isso se deve em parte ao fato de que essas atividades, quando envolvem a linguagem oral, são freqüentemente dialógicas.

Recursos argumentativos


“Há de tomar o pregador uma só matéria; há de defini-la para que se conheça; há de dividi-la para que se distinga; há de prová-la com as Escrituras; há de declará-la com a razão; há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se devem evitar; há de responder às dúvidas; há de satisfazer às dificuldades; há de impugnar; e refutar, com a força da eloqüência, os argumentos contrários; e depois disso há de se colher; há de apertar; há de concluir; há persuadir; há de acabar.”
(Pe. Antônio Vieira – Sermão da Sexagésima)

Vieira nos dá explicações bem objetivas sobre a dissertação através de procedimentos básicos, como:
- Tomar uma só matéria:
O tema deve ser limitado dentro de um assunto genérico, que permita várias abordagens;
- Defini-la para que se conheça:
Após a delimitação do tema, é importante posicionar-se e apresentar a tese a ser defendida.
- Dividi-la:
Trata-se do desenvolvimento, a argumentação. Não basta formar opinião, é preciso defendê-la.


Prova – Este é o melhor argumento que se pode ter.
É indiscutível: dados estatísticos históricos, jornalísticos, científicos.
Ilustração – Como pretexto para confirmar uma proposição,
pode-se recorrer a breves descrições, fatos mitológicos,
míticos, lendários.
Citação – Sempre que possível, deve-se citar a opinião e o
nome de algum autor/a consagrado/a.
Lógica – A análise de causas, conseqüências, circunstâncias,
pressupostos, implicações, prós e contras.


Polifonia e intertextualidade

Quando estamos produzindo um texto, nem sempre somos a única voz presente. Às vezes, colocamos explicitamente, uma outra voz, por intermédio de processos de citação. É o que se chama de polifonia. Isso acontece, usualmente, com as reportagens de jornal ou revistas, onde o/a repórter, além de manifestar sua própria voz, pode introduzir também a voz de seus participantes ou observadores.
Em textos científicos, é muito comum fazer citações, como no seguinte texto:
Lakoff (1981) afirma que não se pode admitir que seja possível falar de boa ou má formação de uma frase de modo isolado, sem levar em conta todas as pressuposições sobre a natureza do mundo.
Para introduzir a voz de uma outra pessoa, é comum o uso de verbos como dizer, falar, afirmar, como ocorre no texto acima. Muitas vezes, o/a autor/a do texto utiliza ainda outros verbos menos neutros, como enfatizar, advertir, ponderar, confidenciar.
Algumas situações, o/a autor/a coloca, explícita ou implicitamente, uma outra voz no texto, cujo entendimento depende de o/a leitor/a ter, em seu repertório, conhecimento de um outro texto. É o que se costuma chamar de intertextualidade. Observe o exemplo:
“Na questão da inflação anual e das taxas de juros, pouca gente pode dizer que se encontra em berço esplêndido, neste país.” O qual, percebemos que o texto em questão traz dentro de si um pedacinho de outro texto, o do Hino Nacional Brasileiro.

TIPOS DE DISSERTAÇÃO

1)Dissertação objetiva: É o texto em que os assuntos se situam em assuntos culturais e científicos, ou seja, conhecimentos gerais sobre Ciência, Arte, História... Pois, a dissertação objetiva tem como finalidade instruir e convencer.
Por ser um tipo de texto científico, a exposição deve ser impessoal, somente em terceira pessoa do singular.
Exemplos de temas objetivos: A engenharia genética; O nacionalismo romântico.

2)Dissertação subjetiva: É manifestação pessoal do/a autor/a, com a intenção de sensibilizar e convencer. Pode-se inclusive empregar a primeira pessoa do plural como foco expositivo, porém, sem os pronomes. (Percebemos... Analisamos...)
Exemplos de temas subjetivos: Cada um é artesão de seu destino; O maior de todos os males.

A ESTRUTURA DISSERTATIVA

A dissertação apresenta, segundo a estrutura aristotélica até hoje utilizada, três partes distintas:

a)Introdução: Apresenta o assunto, a idéia central;
b)Desenvolvimento: Exposição das argumentações;
c)Conclusão: Síntese das idéias e sugestões.


Critérios para uma boa dissertação:

1)Adequação ao tema proposto: Verificar cuidadosamente os casos de fuga total ou parcial ao tema principal;
2)Atenção ao tipo de texto solicitado: É permitido somente prosa (escrita em forma de parágrafos). Os textos em forma de versos (estrofes) são anulados;
3)Coerência e coesão: Avaliar a capacidade de organizar idéias em seqüência lógica, relacionadas;
4)Nível de informação e análise: Levar em consideração demonstrações de conhecimento do tema, capacidade de posicionar-se, defesa de argumentações e conclusões apropriadas;
5)Domínio da escrita da língua padrão: Ortografia, acentuação, regência, concordância, pontuação, emprego e colocação dos pronomes, vícios de linguagem e riqueza do vocabulário (eliminando gírias, expressões populares = clichês).

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

TEXTO: O PÃO NOSSO
Herbert de Souza (Betinho)

Pode haver revolta. Mas é improvável que o caminho da mudança no Brasil seja aberto com explosões sociais. A energia que pode ser usada agora para fazer um futuro diferente está, aparentemente, em outras fontes de transformação. Porque há mudança no Brasil. Ela não corre, mas anda. Não corre, mas ocorre.
Seus sinais estão, por exemplo, no melhoramento das cidades em plena crise da administração federal, no basta à corrupção e no movimento pela ética na política, na emergência de movimentos em favor da mulher, da criança ou da ecologia, no antirracismo. São antídotos contra a cultura autoritária, que sempre ditou a receita do desastre social. Eles estão na confluência de duas tendências. Parte da elite não quer viver no apartheid sul-africano. E cada vez mais pobres querem sua cota de cidadania. Essa maré vai empurrando a democracia da sociedade para o Estado, de baixo para cima, dos movimentos sociais para os partidos e instituições políticas.
É nela que eu hoje acredito. E, por causa dela, encontro-me outra vez com a velha questão que me levou à militância política: O que fazer com a miséria? Aceitá-la a título provisório?
Não dá: aquilo que produz miséria simplesmente não pode ser aceito. A condenação ética da miséria é ponto de partida. Para mim, o que era luta contra o capitalismo para atacar a miséria passou a ser a luta contra a miséria para conquistar a democracia.
É preciso começar pela miséria. Essa é energia da mudança que move a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, revelada na adesão de pessoas de todas as classes sociais, idades, tendências políticas e religiosas, parlamentares e prefeitos, empresas públicas e privadas, artistas e meios de comunicação e, sobretudo, na adesão de jovens à tarefa de recolher e distribuir alimento. Essa juventude está descobrindo o gosto de rompe o círculo de giz da solidão e abrir o espaço fecundo da solidariedade. Esse mesmo gosto que há quarenta anos se reserva à militância.
No combate à fome há o germe da mudança do país. Começa por rejeitar o que era tido como inevitável. Todos podem e devem comer, trabalhar e obter uma renda digna, ter escola, saúde, saneamento básico, educação, acesso à cultura. Ninguém deve viver na miséria. Todos têm o direito à vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não presta para nada. O Estado só tem sentido sendo um instrumento dessas garantias. A política, os partidos, as instituições, as leis só servem para isso. Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro um fracasso de mais uma geração.
Quando eu era cristão e queria lutar contra a miséria, meu dia começava com Padre-Nosso. Tinha fome e divindade. Hoje, ainda luto contra a miséria, mas meu dia começa com um Pão Nosso. Tenho fome de humanidade.
(Veja: Reflexões para o Futuro, pp.19-21)

1)De acordo com as idéias apresentadas no 1º. e 2º. parágrafos do texto, assinale a alternativa INCORRETA:

a)O Brasil está num processo lento de mudanças político-sociais.
b)As mudanças no Brasil são observadas também nos movimentos de antirracismo;
em favor da mulher, da criança, da ecologia; pela ética na política e contra a corrupção.
c)A democratização do país está sendo impulsionada pelo Estado.
d)Os movimentos que estão surgindo são uma reação ao sistema arbitrário que proporciona o desastre social.
e)A elite está temerosa da segregação e os pobres estão exigindo os seus direitos sociais.

2)Assinale a alternativa INCORRETA, quanto às idéias do autor a respeito da miséria:

a) A luta contra a miséria é um ponto de partida para a democratização.
b) A Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida está mobilizando pessoas de todas as camadas sociais.
c) Condenar eticamente a miséria é o primeiro passo para as mudanças no país.
d) A miséria é aceitável até que os problemas socioeconômicos estruturais sejam a miséria.
e) A política, os partidos, as instituições, as leis devem existir para combater a miséria.

3)De acordo com o texto, pode-se afirmar que:

I. “... espaço fecundo da solidariedade ...” significa espaço estéril da solidariedade;
II. “... com explosões sociais...” significa revoltas sociais;
III.“... só existe a presença do passado no presente ...” significa que só existe o continuísmo;
IV.“... confluência de duas tendências ...” significa divergência de duas tendências;
V. “círculo de giz da solidão ...” significa isolamento.

Assinale a alternativa correta:

a) I, II e V estão corretas.
b) II, III e V estão corretas.
c) II, III e IV estão corretas.
d) II, III e V estão incorretas.
e) III, IV e V estão incorretas.

4)Observe se as frases abaixo são verdadeiras ou falsas, quanto a expressarem a idéia central do texto:

I. “E cada vez mais todos querem sua cota de cidadania.”
II. “A condenação ética da miséria é ponto de partida.”
III.“Esse mesmo gosto que há quarenta anos se reservava à militância.”
IV. “No combate à fome há o germe da mudança no país.”
V. “Essa juventude está descobrindo o gosto de romper o círculo de giz da solidão.”

Assinale a seqüência correta:

a) V – F – F – V – V
b) V – V – F – F – V
c) F – V – V – V – F
d) F – V – F – F – V
e) F – V – F – V – F


BIBLIOGRAFIA

1.NOVO MANUAL NOVA CULTURAL. São Paulo, 1993.

2.CEREJA, Willian R. & MAGALHÃES, Thereza C. Todos os textos. São Paulo, 1998.

3.SARGENTIM, Hermínio. Redação: Curso Básico. São Paulo: IBEP, 1996.

4.FARACO, Carlos. Trabalhando com dissertação. São Paulo: Ática. 1992.

5.Português Prático: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Vestibular e Faculdade.
RUESCAS, Jesus (org.); Sivadi Editorial: São Paulo, 2000.

6.BOTOMÉ, Sílvio P. & GONÇALVES, Célia Mª. C. Redação Passo a Passo.
Petrópolis: Vozes; Ed. Da Universidade de Caxias do Sul, 1994.

6.GRANATIC, Branca. Redação, Humor e Criatividade. São Paulo: Scipione, 1997.

8.ANDRÉ, Hildebrando A. de. Curso de Redação. São Paulo: Moderna, 1992. V. 1 a 3.

9.INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de redação. São Paulo: Scipione, 1991.

10.GERALDI, João W. O texto na sala de aula. São Paulo: Educativa, 1995.

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