sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Galpãozito
Livro: II Antologia Crioula de Poetas Lageanos
Autor: Renan de Córdova Melo
Galpão, mundo encantado
Onde profecei meus sonhos
Ali onde piás tristonhos
Desabafaram em mil artes.
Ali, dividi em partes
O que seria meu rumo
Onde decidi meu prumo
Fazendo da vida, apartes.
Pedaço de chão coberto
Quatro cantos, quatro esteios
E um maior bem no meio
Pra moldes de sustentação,
Onde desengana-se redomão
Atadito pelo queixo e bucal.
E um fogo como castiçal
Pra norteio de cada peão.
Galpão das horas mortas
Silêncio de inverno te invade.
Se um cusco ali faz alarde
Pressentindo algum vivente
Em busca de clima mais quente
Que esse vento frio na cara
E a fumaça subindo rara
Parecendo a alma da gente.
Local das rodas de mate
Em horas em que descansa,
Parece que a vida amansa
Com calor de fogo de chão.
Te aquietas, resignação
Após balbúrdias de inferno
Não deveria existir inverno
Se não houvesse galpão.
Na troca de idéias raras
Reanimam-se os campeiros.
Local onde os primeiros
Recolhiam-se das conquistas
Pra descansarem as vistas
Depois de tanto andar.
Na noite pareces altar
Com tuas luzes benditas.
Galpão, resumo de campo
Oficina rude dos campeiros
Onde em pealos certeiros
Reativa-se a memória.
Galpão que viu tanta glória
Desfilar por este chão
Sinônimo de tradição
Pedaço da nossa história.
Mulher Serrana
Por Ulisses de Arruda Córdova
(Às heroínas anônimas de nossa formação)
Origem!? Diversas descendências...
Bem diferentes nas fisionomias
derivando de múltiplas etnias,
como a que veio dos Açores
(amantes da paz e flores)
que chega à Laguna pelos ventos
sobe pela estrada dos conventos,
e fixa-se no planalto e arredores
Também paulistas e bandeirantes
de outras regiões lusitanas
trazendo escravas africanas
vem para os rincões serranos
repelir invasores e castelhanos;
Porém se a estrangeira madruga
aqui já estava a nativa bugra
vivendo entre povos haraganos.
"Da miscigenação destas raças"
nasce o perfil da mulher serrana
definindo o fenótipo que emana
o amor à terra e a liberdade;
ensimesmada em mística bondade
faz história na solidão da prece,
no anonimato luta, fia e tece
NA INVERNADA DOS FARRAPOS
Na *Invernada dos Farrapos, há um cerro com vista longa,
Onde a batida da milonga é plangente nos corações!
Estandartes, pavilhões, em trapos, porém fulgentes,
E a alma da nossa gente tremulando nos brasões!
Capão grande, guarnecido por canelas e pinheiros,
Dentro dele um potreiro e taipas feito trincheiras;
Muita caça, gado alçado e pra fome de liberdade,
A honra e a fidelidade pra com as cores da bandeira!
Garibaldi e Teixeira à frente dos lanceiros negros
Dando a vida pelo apego e por um ideal na guerra!
Centauros brotam da terra e um brado forte proclama
A República Lageana, nos altiplanos da serra!
Ginetes das serranias, fortes como *Bois de Botas,
Entre varzedos e grotas, do império não foram escravos!
República fez-se em Lages! Glória no Santa Vitória!
Enaltecendo a história e a altivez de um povo bravo!
Nestes rincões de Anita, velho chão de todos nós;
A fibra dos bisavós foi legada à descendência,
Viva no modo e na essência – austeridade de um povo –,
Mas que peleia de novo na defesa da querência!
Na invernada dos farrapos, algum fantasma guerreiro,
De um boleador e lanceiro, que não sabe que morreu,
Cuida a linha do horizonte, que vem do *Santa Vitória,
Com invisíveis esporas nas horas santas de Deus...
Quem apeia pelo capão e longe alcança a vista,
Passa a alma em revista, e vê gaúchos em trapos!
Sentimento irretratável, que persiste ao tempo novo,
Dorme a história do meu povo na invernada dos farrapos.
*Invernada dos Farrapos: Nomenclatura dada a uma área de campos na localidade da Coxilha Rica, município de Lages SC, local de acampamento e combate das tropas republicanas, contra as tropas imperiais, durante a Revolução Farroupilha.
*República Lageana: simpática a causa republicana a região dos Campos de Lages, participa ativamente contra as forças imperiais, sendo proclamada no ano de 1839 a República Lageana.
* Bois de Botas: Elogio dado por Davi Canabarro ao destacamento de lageanos pela demonstração de força ao desatolar pesados canhões de um banhado.
* Santa Vitória: Passo no Rio Pelotas entre SC e RS onde se travou combate com vitória dos republicanos.
Melodia de Érlon Péricles, Cristiano Quevedo e Elton Saldanha – 3º Lugar e melhor tema sobre a região serrana Sapecada da Canção Nativa Lages SC
Ramiro Amorim
Publicado no Recanto das Letras em 10/08/2008
Código do texto: T1121736
Referências
Poesias: http://www.recantodasletras.com.br/ Acesso em: Agosto, 2010
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